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💫 Pontes Imortais ― Capítulo 17
Por que não?
Cheguei prontinho pra sextar com vocês com mais um capítulo de Pontes Imortais!
No capítulo anterior… Os medos de Yan se provaram cada vez mais reais quando Oz assumiu a liderança de Farkas com uma atitude muito controversa. Deixemos que nosso curandeiro rabudo favorito resolva esse b.o. enquanto voltamos para São Paulo, onde Yue e Vi finalmente tinham se acertado. Será que essa equação inclui mais variáveis? 👀
Leia este capítulo ao som de Ela só quer paz, do Projota!
Capítulo 17 — Por que não?
São Paulo, 2023
Se fosse bem sincero, Tomás teria que admitir que o café de que tanto gostava não ficava exatamente no caminho do metrô para casa.
Tinha encontrado a portinha estreita na semana que antecedia o resultado do vestibular, quando a ansiedade lhe dava motivos para querer sumir, ao mesmo tempo em que tirava dele qualquer chance de dormir e sumir um pouco de si mesmo.
Sua vó tinha investido nele tudo o que tinha: o dinheiro que ganhava com a Pedacinho de Céu em cursos preparatórios, o tempo preparando refeições e lanchinhos para que o neto não se esquecesse de comer durante a rotina de estudos, e sua paciência, dando colo para Tomás toda vez que ele chorava com o resultado insatisfatório em um dos simulados.
Aquela semana foi a mais difícil, por isso precisou agradecer mentalmente quando escolheu sair uma tarde para andar pelo bairro, contornando ruas estreitinhas enquanto observava cada pequeno estabelecimento que fizera parte de sua vida.
Aquele café não estava lá na maior parte de suas memórias.
“Promoção: compre 1 🥐 e leve 2!”, dizia a mensagem escrita a giz na simpática lousa armada na calçada. Tomás sorriu. Croissants eram uma de suas comidas favoritas. Também faziam sua avó feliz.
— Oi, ainda tem croissants? — perguntou na ocasião, depois de se esgueirar para dentro da portinha, localizando a pessoa de costas atrás do balcão. — O senhor é o dono? — emendou.
— Eu tenho cara de velho? — o garoto rebateu, virando o rosto com uma expressão chocada. — E de rico?
Ele ergueu a voz, atraindo o olhar de um grupinho de adolescentes na mesa mais próxima, fazendo Tomás encolher os ombros por reflexo antes de rir com o drama.
Bernardo não tinha mudado muito naqueles anos. Ainda tinha o mesmo cabelo cacheado azul-turquesa preso para trás e o mesmo cortezinho de gilete no meio da sobrancelha. Ainda que fosse o funcionário mais antigo da Latte Mia, continuava sempre no posto de barista, vestindo o avental marrom com o desenho de um Corgi e de um Persa dividindo uma caneca de café.
— Tomás, ainda não foi hoje que eu fiquei rico — resmungou ele fazendo beiço, enquanto servia frappuccino para uma mocinha com um vestido Lolita. Ele repetia bastante aquela piada, desde a primeira vez que se viram. — Moca e dois croissants pra viagem? — confirmou.
Tomás sorriu, apoiando os cotovelos no balcão e ajeitando os óculos. Quase sempre pedia a mesma coisa, algumas vezes por pura falta de jeito para negar quando Bernardo perguntava, ou por preguiça de verificar o cardápio.
— Você tá com cara de que não tá com pressa hoje! — Bernardo pontuou, apontando com o olhar uma mesa no canto do salão. — Vai pra sua mesa, eu levo lá num pulo!
Ele foi, jogando a mochila pesada em uma das cadeiras vazias e espiando o céu através da janela. Era o fim de tarde de uma quinta-feira, sem aulas à noite. Devia estudar, mas já tinha se convencido a fazer isso por todo o fim de semana. Podia sair do café e ir direto para casa, então passar a noite assistindo dramas com a avó e conversando com Lótus pelo Telegram.
Depois do último domingo em sua casa, com Yue sentado entre eles e aquele nude surpresa de Vi pipocando no celular, Lótus e sua avó tinham criado quase uma amizade baseada em comentar as melhores escolhas de dramas da Netflix.
— Você terminou The Untamed? — Bernardo perguntou, pousando sobre a mesa uma bandejinha com um saco de papel fechado e uma caneca de boca larga.
O desenho feito com a espuma do café era o de um gato daquela vez. Tomás olhou e sorriu, pegando o celular para tirar uma foto.
— Ainda não consegui terminar, mas tenho uma reclamação — respondeu, roubando com a colherzinha uma pata do gato, assoprando-a antes de colocar na boca. — Minha vó viu a mãe do Jiang Cheng e disse que devia ser mais que nem ela pra ver se ganhava “um pouco de respeito nessa casa”.
— Credo, o que você tava fazendo pra tomar uma dessa? Fundando o cultivo diabólico? — Bernardo riu, espiando por cima do ombro a porta vazia.
— Ouvindo música — disse, roubando mais uma colherada, agora da barriga do gato. — De fone. Então não ouvi os cinco minutos dela reclamando sobre a dobradiça da porta.
— Sua vó parece encantadora — o barista comentou.
Puxando uma cadeira, se sentou, com o corpo meio curvado em direção à entrada da cafeteria, de modo a ver caso precisasse voltar pro balcão. Apoiou os braços sobre o encosto e deitou neles o queixo. Parecia ainda mais novinho daquele jeito. Tomás nunca perguntou, mas imaginava que Bê tinha alguns bons anos a menos do que ele.
— Ela é um anjo — Tomás falou, com um suspiro sincero, antes de assoprar o café para tomar o primeiro gole. — Você devia ir conhecer a loja. Eu te falei dela, né?
— Pedacinho de Céu, duas ruas ali pra frente, né? — confirmou ele. — Eu vou. Prometo que vou.
— Tem que ir mesmo. Todo mundo resolveu aparecer lá no mesmo dia. Só faltou você.
A última parte foi um desabafo transparente que fez Bernardo prender a respiração, interessado.
— Eu imagino que não esteja falando do pessoal da sua faculdade, então… Crush?
Aquilo fez Tomás franzir o nariz. Eram?
Lótus tinha começado dessa forma. Conversaram só por mensagem por umas boas semanas depois de terem se conhecido no Tinder. Lótus sempre preferiu assim: conversas mais do que beijos; assistir mais do que tocar. Era diferente de tudo o que tinha experimentado, mas Tomás não se opunha. Tinham algo que não gostaria de mudar.
Com Vi, era o oposto. Sempre que o via, já desde a primeira vez, sentia um ímpeto gritante em envolvê-lo com toques. Se pusesse lado a lado com tudo o que já tinha conversado com Lótus, diria que a porção de Vi que conhecia era ínfima. Mas Vi era um livro aberto de outros modos. Com atitudes, mais do que com histórias. Soaria como um emocionado, mas tinha visto algo naquela noite com ele que tinha o conforto de um lar.
E então havia Yue. Ele é o que mais se parecia com o sentimento que associava a um crush. Tinha passado meses admirando os detalhes da sua voz de contador de histórias no hospital, mesmo que não tivessem trocado muitas palavras. E então, quando finalmente teve sua atenção, o acaso o fez voltar para a estaca zero.
— Foi meio climão — explicou, vendo o olhar curioso de Bernardo. — Um carinha que eu ia sair desmarcou comigo com uma mensagem de “bora marcar outro dia”, mas nunca mais falou nada. Aí ele passou sem querer na frente da loja quando eu tava e me deu oi…
— Sua vó colocou ele pra trampar como se ele fosse da família? — arriscou Bernardo, rindo da cara estarrecida de Tomás, que entregou o quanto tinha acertado. — Minha mãe faz a mesma coisa. E essas coisas acontecem. Você devia ir falar com ele, se tá afim. — Ele espiou a porta, vendo um casal entrar admirando os cupcakes na estufa. Levantou-se, devolvendo a cadeira no lugar para correr até o balcão.
Tomás bebeu o moca em pequenos goles, admirando as habilidades de Bernardo. Ele mantinha uma mão no bolso enquanto preparava um suco para uma das garotas que esperava sorridente, decorava um cappuccino com algum animalzinho de espuma que tirou risinhos da outra e oferecia para elas uns biscoitinhos de degustação, fazendo graça enquanto rodava no dedo a garra que usava para pegar comidas — essa última lhe rendendo, finalmente, uma chamada de atenção do gerente, que passava por ali vindo da cozinha com uma nova fornada de pães doces.
A sombra do pôr do sol se esticava para dentro da cafeteria trazendo uma brisa morna. Tomás bebeu outro gole, se virando para admirar a noite caindo sobre os prédios mais próximos. Luzes amarelas e brancas se acendiam uma a uma rapidamente. Uma delas, vermelha, fez Tomás sorrir. Eram raras as luzes de cor diferente. Uma como aquela, que tremelicava suavemente, ameaçando apagar, era ainda mais. E atraía a atenção de Tomás mais do que sua cor quente.
“Em casa?”, o celular se acendeu com a notificação de uma mensagem de Victor.
Selecionou a foto que tinha tirado do gatinho de espuma antes de mutilá-lo com a colher, enviando-a na conversa com a legenda “parei no caminho”.
A foto carregou por um segundo e então foi enviada, ao passo que outra, de Vi, chegou no seu celular. O primeiro impulso de Tomás foi o de arregalar os olhos, esticando a mão para cobrir a tela e evitar o risco de expor outro nude à rodinha de garotas que conversavam alto às suas costas. Mas não precisou. Não era um pinto dessa vez.
Era a foto de um copo de café. Só precisou bater o olho para reconhecer o Corgi do logo, então ergueu o rosto, abismado.
Vi o olhava do caixa, por cima do ombro, com a mesma expressão surpresa. Tinha acabado de receber sua foto do cappuccino.
— Ei! — Tomás acenou, o sorriso se alargando quando apontou uma cadeira vazia à sua frente e esperou que ele viesse se sentar.
Victor veio, ocupando não a cadeira que tinha indicado, mas a outra, ao seu lado, puxando-a um pouco mais para perto quando colocou um dos dois cafés que trazia na frente de Tomás. Isso liberou a mão dele para poder afagar seu cabelo, próximo à nuca, beijando-o perto da orelha em seguida — o que o deixou Tomás meio fraco.
— E aí? Eu ia deixar um café pra você — Victor explicou com um sorriso, indicando o copo sobre a mesa antes de se recostar na cadeira de um jeito relaxado, bebericando o próprio copo.
— Sem saber se eu tava em casa? — Tomás riu, apoiando os cotovelos sobre a mesa.
Pelas costas de Vi, Bernardo espiava a cena, acenando enfaticamente enquanto pronunciava abertamente palavras sem voz.
É ele?, Tomás leu em seus lábios enquanto ele apontava. Então cobriu a boca com as costas da mão quando ele elogiou: Gostei do brinco. E dos ombros! Então fez uma caretinha. Mas tem cara de mimado.
O garoto ainda fazia mímica quando Tomás desviou o olhar, estendendo a mão para tocar o brinco em forma de cigarro que Vi trazia pendurado à orelha. Ele se virou, mordendo sua mão em uma brincadeira, seus lábios ainda mornos pelos goles de café.
— Você disse que ia pra casa. — Vi se defendeu, erguendo os ombros. — E eu tava por aqui.
— Tá passeando pela Liberdade essa hora?
Tomás desceu o olhar pro café duplicado na mesa. Na etiqueta do copo para viagem, leu as informações sobre o cappuccino. O pedido indicava canela extra, como gostava. Nem precisava mais pedir para que Bernardo fizesse o seu assim. Mas que Victor tivesse se dado ao trabalho de descer até ali só pra comprar um café que levaria até sua casa e ainda fosse atento o suficiente para saber seu café favorito… Sentaria nele de novo por ser fofo assim.
— Eu vim trazer um instrumento pra um cliente ali na praça. E resolvi dar um tempo porque voltar essa hora vai ser uma porra. Aí pensei em te levar café. Cê tava estressado com a facul mais cedo — ele disse, e sorriu.
Tomás alcançou sua mão, trazendo-a para perto da boca. Victor parecia desconfiar que fosse mordê-lo. Aquilo divertiu Tomás quando beijou seus dedos.
— Obrigado pelo café, lindo. — E o mordeu, enfim, bem como ele esperava, no canto do dedo. — Quase esqueci como a faculdade me estressou hoje — suspirou, afagando-lhe a mão antes de soltá-la para beber mais um gole do café.
Ainda bem que tinha dois. Naquele dia, bem que precisava.
— Rolou alguma coisa lá na aula? — Vi perguntou, apoiando os antebraços sobre o tampo da mesa. Tinha a postura protetora e interessada, que mostrava a Tomás que talvez ele fosse o cara capaz de atravessar a cidade pra comprar briga por ele se dissesse que estava desconfortável com alguma coisa ou alguém.
Tomás sentiu os pelos dos braços arrepiarem um pouco. Não era algo de que desgostasse.
— É bobo — explicou, chacoalhando o resto do primeiro cappuccino na xícara. — Eu errei uma resposta. Uma fácil. — Encolhendo os ombros, virou o cappuccino na boca. Era doce e quente, acalmando o amargor no estômago.
Não tinha sido só “bobo”.
Tinha sido humilhante.
Seu professor organizou uma sessão de conversas rápidas com os alunos sobre futuros planos de estágio. Aquele tinha sido o seu dia. Foi até a universidade para falar sobre plantões. No fim, o professor fizera uma única pergunta, rápida e direta. Fácil.
Desidratação era uma das coisas mais comuns durante os plantões. Mesmo assim, quando seu professor perguntou uma forma de tratá-la sem o uso de fármacos, se pegou dizendo:
— Saliva de mariposas-de-sereno.
A resposta veio tão segura que Tomás sorriu na hora, com a tranquilidade de alguém experiente em lidar com aquilo da exata forma que descrevia. Até mesmo demorou a absorver os olhares de estranhamento dos alunos em volta, sem saber o que os instigava, até o professor repetir o que tinha dito e seu rosto ser tomado por um rubor violento.
Nunca tinha ouvido falar sobre uma criatura com aquele nome. Pelo que se lembrava, nem mesmo em filmes, mas foi essa a desculpa que usou quando se recompôs. Inventou o nome de um filme com a facilidade de quem muda um canal de TV. E encerrou a conversa com a resposta correta.
Ninguém percebeu o quanto seu coração batia acelerado quando saiu da sala.
— Você deve estar cansado. Não leva tão a sério. — A voz de Vi o chamou de volta para o café, acompanhada de um toque firme e carinhoso no pulso e do som de um latido em algum lugar perto demais, que fez Tomás encolher os ombros, surpreso.
— Ei! Não pode cachorro aqui! — Bernardo chamou atenção, pegando a vassoura de trás do balcão.
O cachorro era um grande vira-lata caramelo, que saltitava ao redor da mesa, latindo e mostrando a língua. Tomás escondeu o riso no dorso da mão, vendo o animal seguir a mão de Vi de um lado para o outro com o olhar agitado enquanto ele a mexia propositalmente para ganhar sua atenção.
— Carinha do Tomás, seu cachorro não pode ficar aqui, não! — o garoto repetiu, entrincheirado atrás da portinhola, sacudindo no ar a vassoura com a mão esquerda enquanto a direita só se apoiava no fim do cabo, meio trêmula.
— Não é meu, não, mano. — Vi balançou a cabeça, erguendo a voz um pouco. Ao seu lado, o cachorro rosnou para Bernardo, que deu um passo para trás. — Passa, doguinho! Vai pra fora.
O cachorro soltou um ganido fraquinho, desistindo da intimidação e saindo com o rabo entre as patinhas.
— Cês deviam aceitar cachorro, hein? Não é essa a piada do nome? — Vi provocou, vendo Bernardo se recompor.
— Eu não faço as regras, grandão. Só sirvo o café — disse, revirando os olhos antes de ficar na ponta dos pés para se certificar de que o cachorro tinha mesmo saído.
Victor desistiu de continuar a provocação quando Tomás o tocou no braço, apontando para a porta e para a meia dúzia de cachorros deitados ao redor do batente, com a cabecinha abaixada.
— Cê viu? É uma gangue. — Vi riu, jogando o corpo para se recostar mais confortavelmente na cadeira. — E tão me seguindo o bairro todo, esses porra. Até parece que eu tô andando com carne no bolso.
Fez uma checagem rápida de si mesmo, abaixando o rosto para se cheirar perto dos ombros, concluindo que não era nada consigo quando viu a forma como Tomás riu, se inclinando para deitar o rosto em seu ombro.
— Cê eu estiver fedendo, você tem que me avisar, hein? — ele cutucou, segurando o riso satisfeito. Tomás já nem parecia se importar com o que quer que tivesse acontecido na faculdade.
— Não tá, seu bobo! — ele garantiu, e o mordeu no braço.
Perto assim, sua atenção foi drenada para a curva do pescoço de Vi, perto da gola da camiseta. O que antes parecia uma sombra, Tomás entendeu naquele instante como a marquinha ainda arroxeada de uma mordida.
Inaugurou o novo copo de café com um gole um pouco mais longo.
— Não pareceu que você se incomodava com isso — comentou Vi, reabrindo o sorriso. — Pelo que te conheci, pelo menos.
— Não me incomodo, claro — Tomás franziu a testa. — Você tem os seus rolês e eu tenho os meus. Mas eu preciso perguntar: você falou com o Yue?
Evocar o nome dele em voz alta fazia Tomás querer torcer o nariz. Não devia ter tanto apego por alguém com quem nunca saiu. Mesmo assim, a última conversa com ele na loja da avó tinha sido bastante indigesta.
— Com o Yue? — Vi passou a mão pesada pela nuca, com um sorriso torto que trazia ao rosto apenas uma das covinhas. — Tava na cara pra caralho, né?
— Eu quis te morder quando você apresentou ele como “irmãozinho”. Dava pra ver que não era isso, lindo — Tomás disse, antes de mais um gole de café.
— É, ele também quis me morder por isso aí. — Vi segurou o riso com uma golada de sua bebida já no fim. — E mordeu.
— Se entenderam, então?
Tomás apoiou o rosto na mão, entretido, quando Victor assentiu em resposta. Por um motivo que não saberia explicar, a imagem de Vi e Yue juntos era quase tão reconfortante quanto a sua própria entre eles, que pipocava vez ou outra na imaginação.
— Tomás — ele chamou, fazendo uma breve pausa para lançar o copo vazio na lixeira mais próxima. Então suspirou, o olhar se firmando no dele quando tocou seu cabelo em um carinho. — Yue curte você.
— Eu já conversei com ele sobre isso, lindo — Tomás rebateu, balançando a cabeça.
Yue tinha deixado bem claro que não investiria nos dois. Tinha até mesmo se desculpado na ocasião e dito que não ficaria no caminho de nada que envolvesse Victor. Não parecia algo negociável.
— Então… Você já sacou que ele é um cabeça dura? — O divertimento na voz de Vi chamou sua atenção. Intrigado, Tomás arqueou as sobrancelhas. — Pelo jeito, tinha uma pá de coisas que o Yue simplesmente decidiu não me falar. Fora todas as outras que eu também escolhi nunca falar pra ele. E o Yue, ele tem essa coisa irritante de achar… Que ele não vale a pena, saca? Isso ele nunca me confirmou, mas uma amizade desde a adolescência me dá autoridade pra afirmar isso por ele.
Com a mão pesada, Victor fez um carinho gostoso entre os cabelos de Tomás, demandando mais de sua atenção com o toque.
— Não é nada contigo, lindo. — Vi reforçou. — Ele te curte. E eu fico pensando…
Ele fez outra pausa, dessa vez apenas para apreciar o brilho atento nos olhos de Tomás. Gostava daquela atenção, e Tomás podia ver. A atenção o fazia sorrir mais satisfeito, como um carinha mimado.
Tomás poderia prendê-lo entre as coxas e dar toda a atenção que pedisse.
Naquele momento, entretanto, não direcionou a ele mais do que o olhar e um toque suave e carinhoso perto do pulso.
— Por que não nós três? — completou Victor.
Foi a vez de Tomás sorrir. Aquela pergunta era morna como um abraço. E parecia certa na voz de Vi. Poderiam ser os três, saindo para outro daqueles rolês de rinha de luta. Talvez, um dia, até tivesse a coragem de participar de uma, nem que fosse para fazer os dois rirem e o tirarem de lá antes que se machucasse.
Lótus adoraria aquelas histórias. Imaginá-lo junto com eles, assistindo tudo enquanto tomava algum drink colorido sentado em um banquinho no galpão escuro, deixava as coisas ainda mais divertidas.
Mas estava apenas fanficando.
Ajeitou o rosto apoiado nas mãos, suspirando enquanto balançava a cabeça.
— Não sou eu quem você tem que convencer nisso, lindo. É ele. Eu não sou tão difícil.
— Eu falei com ele, te disse. — Victor tinha o mesmo sorriso indecentemente torto de antes. Ele parecia confiante. — O Yue da semana passada estava com uma atualização atrasada, mas os updates tão em dia agora. Te garanto. — E por que ele não veio falar comigo, então? — Tomás perguntou, considerando. Ainda soava certo o suficiente para valer uma tentativa, principalmente se Victor dizia que daria certo daquela vez.
— Yue sempre precisa de um empurrãozinho, lindo. Ele até tem a iniciativa, mas ela geralmente demora pra vir por conta própria. Mas a gente pode ajudar. Vem cá — ele chamou.
Aproximando a cadeira, passou o braço em volta dos ombros de Tomás, pousando-o neles de uma forma relaxada. E alcançou o celular dele, largado perto do copo de cappuccino.
O plano de fundo era uma foto de Tomás e de um garoto com metade da franja pintada de rosa. De pijamas, eles faziam graça segurando alguns biscoitos e uma colher do que parecia ser bicho-de-pé. O garoto parecia bem próximo de Tomás, mas alguma coisa nele deixava Vi meio irritado.
Pelo menos, não precisou olhar para a imagem por muito tempo antes de abrir a câmera.
Se aproximou, pousando uma mordida de brincadeira na bochecha dele. Os óculos de Tomás saíram um pouco do lugar quando ele fez uma caretinha. Era uma fotografia fofa.
— Oh, manda pra ele. — Vi cutucou Tomás no ombro, acomodando-o em um meio abraço, com o queixo pousado sobre sua cabeça. — Fala que foi coisa minha, se quiser. Ele tá ligado.
Tomás suspirou, se ajeitando no carinho de Vi. Abriu a conversa com Yue, abandonada desde o cancelamento do encontro, e mordeu o canto do lábio, pensando no que dizer. O não já tem, teria dito sua avó, como dizia para toda e qualquer situação em que Tomás se sentisse tão inseguro. Ficou imaginando se a avó aprovaria que a frase fosse usada de estímulo para sugerir um trisal. Possivelmente, tomaria um peteleco se sugerisse na frente dela. Mas Annchi estava certa. Já tinha o não, então buscaria a humilhação, só daquela vez.
Enviou a foto, erguendo o celular até a linha dos olhos de Vi para que ele visse a legenda. Sob a imagem, com as cores levemente enfatizadas por um filtro, Tomás tinha digitado “podia ser nós 3, mas você não colabora”.
A risada animada de Vi veio acompanhada de uma fileira de olhares das mesas ao redor e do garoto que servia café atrás do balcão.
E de uma onda de latidos da dúzia de cachorros que tinham se acumulado ao redor da porta.
Continua…
No próximo capítulo… Yan foi chamado para verificar um problema envolvendo as mariposas-de-sereno de Farkas. Ele não quis incomodar Oz, mas será que iria mesmo sozinho? Talvez alguma criatura devesse oferecer companhia.
ATENÇÃO! 🚨 Na semana que vem, não teremos capítulo novo, mas a edição mensal da newsletter do Vórtex, a Bunny Hour! Não deixe de se inscrever para receber diretamente no e-mail e ler uma entrevista com Oz de Farkas (deadbunnybl.beehiiv.com)!
O Capítulo 16 — Um sinal dos imortais chega no dia 2 de fevereiro às 12h!
Nos vemos semana que vem, vortexianos!
Ei, vizinho! Não esquece de me acompanhar nas outras redes! 💫
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