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💫 Pontes Imortais ― Capítulo 40
Uma memória inventada
Partiu mais um capítulo? Este aqui completa 40 capítulos de Pontes Imortais!
No último capítulo… Depois da oficialização do casamento e de todo o bafafá que ela causou, demos uma desviada para ver que Nyan e Tapisa se conheceram na floresta! Qual a relevância disso? Mais pra frente vocês vão entender, prometo.
Música-tema do capítulo: Bad Dream, de Sóley (sigam a playlist oficial Pontes Imortais #2 no Spotify!)

Capítulo 40 — Uma memória inventada

Farkas, seis meses antes da queda de Nivaria
A primeira vez que participou de uma investida, Ravi tinha pouco mais de oitenta anos — ainda uma criança sob qualquer perspectiva, exceto pelos rigorosos padrões de seu pai. Naquela época, Minéria era um distrito independente a meio caminho da ponte em direção ao Deserto. Tudo era muito significativo: a posição estratégica, o fato de que Minéria abastecia as Cidades com metais e pedras preciosas, e aquela postura vanguardista que parecia incitar nos arredores certa dose de indisciplina com que o líder Farkas da época pouco concordava.
Em suas memórias, tudo é grande demais para Ravi: a mesa em que seu pai se sentava, cercado por líderes de outros distritos e diplomatas oficiosos de rostos pálidos; o salão em que se encontraram durante dias; a quantidade de pessoas indo e vindo através do pátio redondo, trazendo novidades de uma Minéria sitiada, resistindo às tentativas de acordo propostas pelo pai de Ravi.
“Não podemos só jogar os lobos contra eles?”, Ravi se lembrava de ter perguntado num momento em que o tédio parecia consumi-lo.
Os garotos da sua idade estavam todos no Hall se divertindo com pipas e pequenas rixas. Que utilidade ele teria naquele salão enfadonho? Não era para resolver aquelas questões que serviam os líderes e diplomatas? Ravi sequer tinha recebido autorização para deixar o cabelo crescer, o que implicava que o pai ainda não o enxergava como um possível sucessor.
“É claro que podemos”, seu pai tinha respondido. A lembrança faz do sorriso dele uma coisa enorme, como uma foice pendurada em seu rosto marcado por cicatrizes. “Mas se você der aos ratos a ilusão de que os está alimentando, então não vão perceber que comem o queijo em cima da armadilha.” Demorou para que Ravi compreendesse aquelas palavras. Também demorou para que entendesse que Minéria não se uniu aos distritos farkasianos de bom grado, mas que havia sido coagida e ameaçada até ceder.
Não era isso que os Farkas contavam, e cada vitória farkasiana se transformava em algum tipo de comemoração anual, de forma que estavam constantemente lembrando ao resto do mundo qual era o seu lado da história — que eventualmente se transformava na verdade.
Com seu pai, Ravi aprendeu que a história é contada pelo lado mais forte. A história das Cidades Flutuantes seria contada por eles, portanto.
Naquele dia, estava no mesmo salão onde seu pai havia feito planos outrora. A viela servia para receber seus convidados mais importantes ou para reuniões mais reservadas. Também era o refúgio de Ravi quando precisava pensar. E havia bastante no que pensar desde que recebera aquela mensagem mais cedo.
— O que me aconselha fazer?
Seus olhos finalmente se deslocaram para o lado, como se ele despertasse de um longo sono. Kuí não se apressou em respondê-lo, ocupado em se servir de mais uma xícara de chá. Poderia medir o tempo que havia esperado por uma reação de Ravi pela quantidade de vezes que um leva-e-traz encheu, então tornou a encher, o bule requintado que o diplomata trouxera consigo.
— Eu deveria considerar esse comportamento como traição! — ele continuou, sem dar a Kuí tempo para responder qualquer coisa.
Ravi afastou a cadeira ruidosamente quando se levantou, de súbito ativo demais. O par de lobos que o acompanhava arriscou alguns latidos de alerta, mas antes que começassem a uivar, se calaram diante do olhar penetrante de Kuí.
— Pensando de forma prática… Só seria realmente traição se nossos amigos tivessem cedido aos seus planos.
Kuí respondeu depois de se dar alguns segundos de prazer experimentando o chá. Ligeiramente doce, e gelado no ponto certo, era a bebida ideal para enfrentar o calor pegajoso de Farkas. Romanzeiras insistiam em ser árvores selvagens demais para nascer em qualquer lugar que não o Deserto, ou ao redor de Minéria, onde eram consumidas para combater a contaminação por metais pesados.
Em certa medida, o diplomata bebia de bom grado algumas doses da indignação de Ravi.
— Atender ao seu pedido seria trair Nivaria — continuou, percebendo que apesar da agitação, o líder Farkas não pretendia voltar a interrompê-lo. — Ou correr o risco de ser pego tentando. Vamos, não fique tão agitado… Eu o alertei sobre os possíveis obstáculos no seu plano. E depois que os três noivinhos foram oficialmente apresentados ao povo de Nivaria, é claro que ficaram populares mesmo entre os que vestem pele de cordeiro.
— O que devo fazer? — Ravi insistiu mais uma vez, espalmando as mãos sobre a mesa com tanta ênfase que o som fez os lobos latirem, inquietos. — Você está tão interessado neste assunto quanto eu.
Uma das cobras de Kuí apertou-lhe os ombros, o corpo maciço se assomando acima de sua cabeça. Ele chiou, o som semelhante ao de um chocalho, induzindo o animal a retroceder, voltando à calmaria de antes.
— Ah não Ravi, querido. O meu interesse é com o destino das Cidades — corrigiu, deixando o queixo descansar sobre o dorso da mão, o sorriso se alongando para os cantos feito uma cobra se espichando. — Calha que normalmente os nossos negócios gostam de passear de mãos dadas por aí.
O indicador de Kuí se ergueu no ar graciosamente antes que Ravi começasse a esbravejar todos os palavrões que um farkasiano de elite como ele não deveria saber.
— Não diga nenhuma malcriação impensada, meu bem — o diplomata advertiu e Ravi, cuidadoso, cuspiu para dentro o que pretendia dizer. — Entenda o seguinte: à Ópera não interessa que Nivaria tenha em mãos uma tecnologia como aquela. Logo os nivarianos? Isolados demais, independentes demais em tudo que tange aos acordos comuns com as outras Cidades. Os riscos…
Deixou os dedos correrem pelo corpo da cobra em seus ombros, a expressão ganhando ares mais sérios quando desviou o olhar, encarando um ponto qualquer da escuridão lá fora.
Nenhum líder jamais questionou as motivações de um diplomata — nem mesmo Ravi. Vinham do Deserto, do mesmo lugar onde todos os Imortais tinham ascendido. Em certa medida, eram vistos como representantes de suas vontades. Poucos tinham firmado uma teia de relações tão forte e prolífera quanto a de Kuí. Foi por essa razão que Ravi viu naquela reticência soturna alertas de emergência, os ombros enrijecendo-se com um peso novo.
Imagens de guerra marcharam por sua cabeça. Imagens de uma Farkas incendiada, subjugada, submissa. As memórias do cerco à Minéria lentamente se transformaram em imagens suas: o poder destituído, o crânio de lobo arrancado do topo de sua cabeça, respondendo às ordens de um povo que vivia no cu do mundo e que sequer sabia como era sentir a magia correndo pelas veias, o poder dos Imortais enchendo seus punhos de uma força excepcional.
Não percebeu como Kuí tinha voltado a observá-lo, ou a curva de um sorriso satisfeito em seus lábios.
— Eu tenho sim, meu querido, um conselho ou dois para te presentear.
━━━━━━ • ❆ • ━━━━━━
A carta de Mestre Inua, enviada semanas antes no papel timbrado e insosso dos documentos oficiais de Nivaria, ainda atormentava Maali. Nela não havia nada de mais, apenas a formalização de sua ruptura com a Cidadela da Neve Eterna e com os votos de monge. Por alguma razão, contudo, ele continuava a procurá-la nos momentos de distração, como se houvesse algum quebra-cabeças para resolver naquelas poucas linhas.
Ainda estava cedo, e o Hall da Conflagração não estava completamente desperto, embora o vento soprasse para dentro do quarto os cheiros saborosos da cozinha. Maali correu o olhar pelo quarto, sorrindo com a imagem de Oz e Yan abraçados, ainda adormecidos, a pontinha escura da cauda de Yan enroscada na panturrilha de Oz. O sorriso logo desapareceu, dragado pela estranha apatia daquela carta.
O conselho da Cidadela da Neve Eterna expressa sua gratidão ao trabalho duro do cidadão Tyr Maali ao longo de seus anos servindo como monge interno e, a partir desta data, anula seus votos monásticos. Desejamos felicidade em seu compromisso com a família Farkas. Reforçamos que a presença na Cidadela da Neve Eterna é restrita aos monges e estudantes convidados. Por esta razão, estamos enviando à família Tyr todos os pertences de Tyr Maali.
Felicidade em seu compromisso com a família Farkas… Por mais que agora fosse capaz de admitir os seus sentimentos por Oz, não estava lá pelos Farkas, afinal, e sim por Nivaria. Amar o Farkas que se tornaria seu marido não foi mais do que um golpe de sorte e isso não mudaria sua posição de guerra naquela Cidade.
Maali percebeu que aquele punhado de palavras de alguma forma reforçava essa posição, ao mesmo tempo em que o distanciava da Cidadela. Para quem poderia informar qualquer problema que percebesse, se não para eles e para seus pais?
Frustrado, dobrou a carta, voltando a guardá-la pouco antes de sair do quarto na ponta dos pés, para não acordar os noivos. Os cabelos soltos roçavam-lhe a linha da cintura e, não fosse pelas tranças na lateral da cabeça — que lhe destacavam entre os farkasianos do Hall —, passaria por uma pessoa qualquer, sem os enfeites e com a túnica simples.
Tinha chovido na noite passada e o clima estava ameno, o céu nublado trazendo promessas de tempestade. Tinha sido a primeira vez que Maali avistara uma revoada de mariposas do sereno, e Oz deu boas risadas com sua reação bélica, pronto para disparar meia dúzia de flechas contra as criaturinhas. “Não faça isso, a menos que queira morrer de calor”, Oz advertiu.
Empoleirada no muro, uma mariposa do sereno batia as asas devagar, descansando. De perto, era ainda maior — quase do tamanho de um cachorro de porte médio —, e a cauda espiralada emitia um zumbido baixo e constante, hipnótico. Parando para observá-la, de pé sob um dos pórticos que marcava o fim do corredor, Maali se sentia como um fantasma. A impressão não era completamente desagradável, embora carregasse o peso amargo de uma solidão não requisitada ou da sombra de uma memória que ainda não existia. Cria de Nivaria, ele sabia reconhecer quando atravessava o limiar dos mundos. Era como olhar para o abismo que desembocava no vórtex.
Uma vez, quando era criança, tinha se arriscado em ir sozinho até a Ponte, de onde era possível observar melhor a imensidão carmim do vórtex. Dias antes, alguns garotos mais velhos tinham enchido sua paciência entoando musiquinhas sobre como ele era um medroso por não conseguir sequer subir em uma arvorezinha de nada sem ter vertigens por causa da altura. Crianças não poderiam ir sem supervisão até a Ponte, mas se Maali conseguisse dar alguns passos sobre ela antes que os pássaros-engrenagem acabassem o entregando, então o medo de altura iria embora. Na sua cabecinha infantil, fazia bastante sentido. Estava sendo corajoso enfrentando o vórtex daquela forma.
Avançara um passo, então dois, depois três. Então os joelhos cederam, trêmulos, e ele engoliu um grito de pavor enquanto a estrutura da Ponte balançava suavemente sob seu corpo. Lá de baixo, era observado pelo fundo do vórtex, que era como o olho de um monstro, e foi a primeira vez que Maali atravessou um limiar. Ao mesmo tempo, estava e não estava em Nivaria. Ao mesmo tempo, existia e não existia. Teve a impressão de ouvir música vindo de todas as direções, mas bem poderia ser seu sangue fluindo rapidamente pelas orelhas, tapando-lhe os ouvidos, respondendo ao descompasso do coração.
Ele viu alguma coisa naquele dia. Ou ouviu, ou sentiu, embora as memórias despedaçadas nunca tenham voltado a se unir. Um monge o encontrou deitado na Ponte, em posição fetal. A Cidade inteira tinha se juntado para procurá-lo porque uma nevasca estava a caminho. Ao vê-lo de volta ao Distrito, seus pais o abraçaram ao mesmo tempo em que se atropelavam em um milhão de puxões de orelha aos quais Maali não reagiu. Não reagiu a quase nada por vários dias e só então, durante um desjejum qualquer, disse aos pais que gostaria de ir estudar na Cidadela da Neve Eterna assim que tivesse a idade mínima — ao que seus pais responderam que sim, é claro que ele iria, como esperado de qualquer filho de um líder.
“Vocês não estão entendendo”, ele retrucara, sério. “Eu vou me tornar um monge.”
Porque, de alguma maneira, o vórtex tinha chamado por Maali. E não havia nada que ele pudesse fazer a respeito exceto obedecer ao chamado.
Seu coração estava descompassado novamente. Agarrando-se à lateral do pórtico, Maali desviou a atenção da mariposa do sereno. Mesmo havendo um muro do outro lado, ele teve certeza de que viu um grupo de soldados farkasianos atravassarem o corredorzinho estreito logo atrás, em um passo rápido.
“O Mestre Farkas pediu que os primeiros batalhões se encontrassem na Ravina dos Lobos e aguardassem novas instruções” Maali teve a impressão de ouvir um deles falar, o sorrisinho petulante brincando em seus lábios. Não era mais do que um jovenzinho, mas parecia animado como alguns garotos parecem ficar quando estão prestes a brincar de guerra.
Maali piscou os olhos e a imagem se desfez, o muro voltando a ser sólido e alaranjado como sempre.
A mariposa do sereno bateu as asas, voando para longe, e então uma série de gritinhos vindos da cozinha deu fim de uma vez por todas àquela sensação opressiva. Maali tomou ar, percebendo que estava segurando o fôlego até agora.
Não dormi bem, concluiu. Precisava de um copo de chá energético para despertá-lo e dar fim no formigamento que tinha se instalado na ponta dos seus dedos.
Encontrou um pequeno caos na primeira cozinha, aquela em que costumava ir com Oz para surrupiar pãezinhos e pedaços macios de bolo de arroz.
— Tudo bem, Madame? — perguntou, vendo a cozinheira-chefe espanando farinha das roupas.
— Te pareço bem, garoto? — ela retrucou, franzindo o nariz ao avistá-lo como se Maali tivesse ousado aparecer nu bem na sua frente. — Aquele bendito lagarto nivariano não nos dá um dia de trégua.
Shu. Maali soltou o ar pelo nariz numa sugestão de riso que só aumentou o desagrado da mulher.
— Shu não é nivariano, Madame — ele corrigiu, o que fez bem pouco pelo humor dela.
— Ele veio daquele fim de mundo no ombro do ratinho, não veio? — ela disse, erguendo a mão antes que Maali ousasse retrucar. — O que você quer, menino? Melhor me falar para que eu busque do que roubar a comida na surdina. Francamente, você e o jovem mestre Farkas são um problemão…
— Yan — Maali falou. E vendo que a mulher o encarava como se olhasse para um louco, explicou: — O nome dele é Yan, e ele é um arminho. Por sinal, eu sou uma raposa. Melhor explicar, para o caso de a Madame nunca ter visto nada além de ratos. E eu gostaria de uma xícara de chá de gengibre e canela, se possível.
— Eu busco! — uma moça se apressou em dizer. — Pode ir cuidar das outras coisas, Senhora. Eu me responsabilizo pelo jovem mestre.
O que parece ter sido um bom arranjo, visto que a cozinheira-chefe estava com o rosto em chamas de tanta raiva.
— Obrigado — Maali concedeu quando a mulher se afastou, deixando-o na companhia daquela criatura mais simpática. O avental perfeitamente limpo dela contornava-lhe a barriga redonda que denunciava uma gestação perto do fim. — Madame, não precisava se incomodar…
— Não vou parir por buscar uma xícara de chá, menino — ela resmungou com bom-humor. — Acredite em mim, tenho mais dois filhotes em casa que se recusam a não ganhar colo toda vez que volto pra casa. É bem mais esforço do que isso. Senta, vou te buscar uns biscoitinhos. E vê não me chama de Madame, meu nome é Juni.
Ajeitando-se onde ela indicou, Maali observou a cozinha já de volta ao ritmo cotidiano. O Hall era um complexo grande — praticamente uma cidade dentro da Cidade —, o que exigia cozinhas sempre funcionando. Ainda assim, era óbvio que estavam trabalhando mais do que o normal.
— Teremos algum evento, Juni? — questionou, recebendo nas mãos a xícara de chá quentinho. Os biscoitos também pareciam ter saído do forno recentemente.
— Não sei te dizer, jovem mestre. O Mestre Farkas pediu que dobrássemos a produção nas próximas semanas. Decerto deve estar esperando convidados, talvez a Ópera do Fim do Mundo se instale mais perto de Farkas. Minha esposa contou que eles estavam acampados a caminho de Minéria.
Maali absorveu a informação com um gole de chá, o calor do gengibre desfazendo os nós em seus ombros que o evento de minutos atrás tinham criado.
— E o que Shu aprontou? — perguntou, um pouco mais risonho. O lagarto de Yan era bastante descortês, isto era capaz de admitir, mas ainda assim não deixava de ser uma figura divertida à sua maneira.
— Ah… — Juni riu, sentando-se no banquinho diante dele. — O senhor Shu está sempre em busca de comidinhas por aqui, e sempre as melhores. Não importa se já há pães prontos sobre a mesa, ele dá um jeito de carregar os que acabaram de sair do forno e que a cozinheira estava reservando para os Mestres Farkas — conta, escondendo o riso contra os dedos. — De verdade, não sei como ele consegue carregar tanta comida com duas patinhas tão pequenas.
— É realmente uma pergunta excelente.
— Você vai voltar para o quarto com seus noivos? — Juni perguntou, vendo que Maali já estava quase no fim da xícara de chá. O coitadinho deveria estar mesmo precisando daquilo. — Quer me ajudar e levar a bandeja com o desjejum para lá? O jovem mestre Oz ainda vai tentar enrolar na cama por algum tempo, mas se entendi como funciona o jovem mestre Yan, logo logo ele estará acordado.
— Claro, eu levo. — Maali sorriu. Era gentil que Juni prestasse atenção em detalhes assim.
Dali há pouco, ele estava com uma bandeja pesada nas mãos, o cheiro abrindo-lhe o apetite apesar dos muitos biscoitinhos que tinha comido. Precisava ser honesto: a culinária farkasiana era maravilhosa, com tantos temperos e texturas.
— Ah, e jovem mestre! — Juni chamou uma última vez, segurando o riso. — Tente usar um manto sobre a túnica de dormir da próxima vez. Os farkasianos mais velhos costumam achar de uma tremenda falta de educação que alguém ande assim por aí.
Oh… Maali se sentiu queimar de vergonha, da boca do estômago até a pontinha das orelhas, agora viradas para trás. Sussurrando mil pedidos de desculpas, apressou o passo na intenção de voltar para o quarto o quanto antes.
Distraído por uma risadinha ao atravessar os pórticos, olhou para a esquerda. Primeiro, teve a impressão de ver Shu na esquina ao final do corredor, guardando um grande pedaço de pão… dentro de si? Ele balançou a cabeça e o vulto escapuliu para longe antes que pudesse ter certeza de qualquer coisa.
Sono. Precisava dormir.
— Está tudo bem, jovem mestre?
Aquele rosto não poderia ser efeito do sono. O soldado que o encarava tinha feições idênticas às daquele que achara ter visto através do muro. O mesmo nariz redondo, os mesmos lábios grossos. Carregava uma arma de fogo à cintura — a arma padrão dos soldados farkasianos — e agora Maali procurava na memória se já tinha visto outros soldados andarem armados dentro do Hall. Nas entradas, sim, mas dentro?
— Precisa de ajuda? — o soldado questionou. As sobrancelhas erguidas tinham um ar meio zombeteiro.
De onde ele estava vindo? Tinha saído dos fundos do mesmo corredor onde Maali achara ter visto Shu.
— Sim. Sim, estou bem. Obrigado.
Poderia estar ficando maluco, e a culpa decerto seria do calor infernal de Farkas, mas a sensação de que alguma coisa grande tinha sido colocada em movimento continuava assombrando Maali a cada passo que dava.
Por ora, se refugiaria nos braços de Yan e Oz. Depois, com a cabeça no lugar, pensaria sobre o que fazer.

Continua…
No próximo capítulo… Maali pensa ter visto Shu esconder algo dentro do próprio corpo. Isso é possível? E, melhor ainda… É um segredo?
O Capítulo 41 — Pães doces e segredos chega em 18 de abril de 2025!

Ei, vizinho! Não esquece de me acompanhar nas outras redes! 💫
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